The only thing we are certain of after all these years is the insufficiency of explanation.

05/05/06

Não sei o que sou

Não sei o que sou. Penso que sou algo mas depois esse pensamento desvaneia-se. Descubro que é muito difícil agradar, gostar, apreciar o que deve ser apreciado. É necessário dar valor às coisas quando elas o têm. Chego ao ponto de só me aperceber do que tenho quando estou prestes a perdê-lo, onde me dizem adeus com um sorriso na cara. Acabo por apreciar este sorriso com satisfação. Deixo cair uma lágrima. Percorre a minha cara e chega ao pescoço. Sinto o frio a molhar-me o pescoço e arrepio-me. Limpo a lágrima. Já fez o seu caminho. Já mostrou o que valia, o que valhia e o porquê de ter sido derramada.
É nestes intervalos de tempo em que me afasto de mim mesma em que descubro o que perco por ser quem sou e o que ganho por me afastar de mim mesma. Sei agora que a verdadeira essência da minha vida é ser o outro alguém quando o meu eu real dorme. Esse outro alguém é o meu verdadeiro eu, embora não o meu real eu.
Enquanto durmo, vagueio pela noite e subo até ao céu....vejo as nuvens e passo por entre as estrelas.
Ah! Lá está ela! A mais bonita de todas! Não me refiro à mais brilhante, mas sim à mais bonita. A mais pequena, mais afastada de todas...A sua forma misteriosa dá-lhe um valor bastante mais superior do que ás outras. Eu pelo menos dou-lhe mais valor.

Vejo-me agora reflectida em Alberto Caeiro, ou melhor dizendo, em Fernando Pessoa:

Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.